Nos últimos anos, temos assistido a um crescimento exponencial na quantidade de dados gerados e armazenados pelas organizações. Em 2024, o volume global de dados criados e consumidos ultrapassou os 180 mil milhões de gigabytes. Este cenário está a contribuir para verdadeiras revoluções em diversas indústrias, à medida que as empresas se tornam cada vez mais movidas por dados (data-driven), usando informação para melhorar tanto as operações diárias quanto as decisões estratégicas.
No entanto, esta explosão da volumetria de dados traz consigo desafios significativos que podem ser um verdadeiro pesadelo para as organizações. Entre eles, a dificuldade em rastrear a origem dos dados e o seu ciclo de vida, as divergências na interpretação de dados semelhantes por diferentes departamentos ou áreas de negócio, os problemas no controlo de acessos e, sobretudo, os riscos associados à segurança que podem gerar danos graves do ponto de vista financeiro e reputacional.
As multas associadas com problemas no governo dos dados podem ser extremamente elevadas, podendo atingir até 4% da receita anual das empresas. Nos últimos anos, grandes organizações enfrentaram penalizações significativas de vários milhares de milhões de euros. Para além do óbvio impacto financeiro, estes casos têm consequências colaterais, nomeadamente a diminuição da confiança dos consumidores nas empresas envolvidas.
Considerando que os dados são hoje em dia um dos ativos mais valiosos das organizações, é imperativo implementar modelos eficazes e eficientes de governo de dados. Um modelo robusto de data governance não apenas garante conformidade com as diferentes regulamentações, como o RGPD, como também promove a confiança nos dados, que são essenciais para suportar decisões estratégicas.
O impacto do governo de dados reflete-se em três dimensões principais, que devem atuar em harmonia para assegurar o sucesso de qualquer modelo:
- Pessoas: Define os papéis e responsabilidades na gestão de dados, assegurando a correta utilização e transparência dos dados.
- Processos: Conjunto de políticas, normas e procedimentos para assegurar a qualidade, segurança e conformidade dos dados ao longo do seu ciclo de vida.
- Tecnologia: Conjunto de ferramentas e infraestruturas necessárias para armazenar, proteger e gerir os dados de forma eficiente e segura
Para implementar um modelo de data governance eficaz, as organizações têm hoje à sua disposição diversas ferramentas tecnológicas que funcionam como aliadas estratégicas. ajudando a estruturar e a gerir os dados de forma eficiente. Estas ferramentas permitem obter um conjunto de vantagens consoante as prioridades e necessidades, tais como:
- Mapear e catalogar dados para identificar a sua origem e ciclo de vida;
- Criar um glossário de negócio que permita a utilização de uma linguagem comum aos diferentes departamentos;
- Automatizar workflows que asseguram a gestão dos dados e a conformidade com regulamentações;
- Criar um data marketplace que facilita o conhecimento da informação disponível e a partilha da mesma;
- Assegurar a qualidade dos dados, detetando automaticamente erros ou inconsistências.
Considerando as diferentes ferramentas tecnológicas disponíveis no mercado é essencial garantir uma análise inicial que defina os objetivos a atingir com a implementação das mesmas.
Assim, é importante que as organizações tenham a perceção de quais os pressupostos iniciais que devem garantir antes da utilização e implementação destas ferramentas de governo:
- Estratégia de dados aprovada;
- Modelo de governo definido;
- Data roles e ownership identificados (pelo menos parcialmente);
- Estratégia de adoção tecnológica e de gestão da mudança;
- Reconhecimento das vantagens da utilização destas ferramentas por parte dos diferentes stakeholders (inicialmente, isso poderá representar um esforço adicional nas atividades diárias);
- Requisitos funcionais e técnicos identificados.
O governo de dados não é uma iniciativa com um destino definido, mas uma jornada contínua. À medida que as empresas evoluem e amadurecem neste processo, começam a colher os frutos: maior eficiência operacional, decisões mais informadas e estratégicas, redução de riscos e conformidade regulatória.
Num mercado cada vez mais competitivo e orientado pela inovação tecnológica, investir no governo de dados é preparar as organizações para o futuro. As empresas que abraçam esta transformação não apenas ganham uma vantagem competitiva, também constroem um ambiente sustentável onde os dados são, para além de geridos, valorizados e potenciados para maximizar o valor que deles é extraído, criando impacto positivo real.