É obrigatório gerir a mudança na Transformação Ágil | NTT DATA

seg, 15 abril 2024

É obrigatório gerir a mudança na Transformação Ágil

‎Neste artigo, Alexandre Inácio, Agile Coach da NTT DATA Portugal, explora a forma como a agilidade está a ser implementada nas Organizações

O aparecimento da IA generativa 

Apesar das contrariedades e do ceticismo inicial, pouco a pouco, os princípios, valores e práticas ágeis instalaram-se e tornaram-se moda. A agilidade trouxe benefícios reais: aumento de produtividade, maior espírito colaborativo, mais qualidade das entregas, entregas mais rápidas e maior satisfação dos clientes. No entanto, as dificuldades foram-se sobrepondo aos benefícios e a perceção da sua utilidade foi decaindo e a agilidade foi perdendo terreno nas Organizações.

Mas terá esta perceção razão de existir? O que sabemos acerca de como está a ser implementada a agilidade nas Organizações? O que leva à sua adoção? Quais as dificuldades sentidas?

O panorama da prática de Agile

“The 17th State of Agile Report”, um questionário sobre a evolução da agilidade recentemente publicado pela Digital.ai, tem a resposta a estas perguntas e dá-nos uma visão do que aconteceu em 2023 a este nível. Foram questionados quase mil participantes da América do Norte, Europa, Ásia, Austrália e África, destacando-se os seguintes dados:

  • A tendência das equipas que mais adotam a agilidade mantém-se: equipas de IT e Software Development and Delivery Life Cycle, que representam 69% e 68%, respetivamente, das organizações referidas no questionário. Em contraponto, é nas equipas de RH, Marketing e Business Operations onde a agilidade se encontra menos disseminada.
  • Apenas 32% das Organizações referem que a transformação ágil é encabeçada por líderes de negócio. Na maioria, a adoção ágil ou é liderada pelo CIO/CTO ou por equipas técnicas individualmente.
  • Quase metade dos inquiridos afirma estar satisfeito com a adoção da agilidade na sua Organização e um quarto refere que não está a correr como expetável.
  • As organizações satisfeitas com a implementação da agilidade referem como principais benefícios o aumento do ambiente colaborativo (59%), melhor alinhamento com as necessidades de negócio (57%), melhor ambiente de trabalho (36%) e maior qualidade das entregas (25%).
  • Comparando com o ano anterior, a satisfação com a agilidade desceu de 72% para 59% das Organizações inquiridas.
  • As dificuldades de implementação da agilidade recaem sobretudo na resistência à mudança ou choque cultural (47%); falta de participação da liderança (41%); falta de suporte ou sponsorship (38%) e desconhecimento das equipas de negócio acerca do que a agilidade pode fazer (37%).
  • As razões que impedem a transformação ágil de passar do nível da equipa para toda a organização mantêm-se ano após ano: falta de compreensão dos motivos da transformação por parte da liderança (36%) e falta de empoderamento das equipas (33%).

Em linha com o “panorama da agilidade”, que nos mostra um decréscimo de satisfação, muitos dos casos de insucesso da implementação da agilidade devem-se, a meu ver, ao facto de se perspetivar a transformação ágil com um fim em si mesmo, e não como um meio de se resolver um problema ou responder a uma necessidade.

A implementação da agilidade implica necessariamente mudança, e esta não acontece nem por decreto nem por magia. É necessário perceber-se o porquê da mudança e esta mudança tem de ser gerida, como aliás todas as mudanças, se quisermos que sejam bem-sucedidas.

É um facto que se não gostamos de um determinado resultado, atuar de forma semelhante não o muda. Mas agir de forma diferente só porque sim também não o torna melhor. Tem de se perceber como se chega a esse resultado e o que está a originar a sua má performance. Só com uma análise se percebe as suas causas e se consegue atuar de forma consequente na sua resolução. Com a agilidade o funcionamento é o mesmo. Se não soubermos o que agilidade irá ajudar a resolver, qual o objetivo, a sua implementação está destinada ao fracasso.

Transformação ágil é mudar comportamentos

E não se pense que a agilidade é apenas implementar uma prática, ou mascarar os mesmos comportamentos com um processo diferente. Quando mencionei que a transformação ágil implica verdadeiramente uma mudança é porque implica mudança de comportamentos, de formas de estar e pensar, e isto sim é deveras desafiante e o motivo de muitos insucessos. 

Os líderes têm um papel crucial na transformação ágil 

Esta necessidade de mudança, de transformação ágil tem de ser abraçada em todos os níveis da organização. Todos têm de ser envolvidos para que não sejam uma barreira à mudança. Todos têm de compreender o seu porquê e desempenhar um papel ativo no seu desenvolvimento. E os líderes têm um papel fundamental nesta transformação, quer a patrocinar, suportar ou mesma facilitar que tal aconteça.

Muitas transformações entram no sistema organizacional como se de um vírus se tratasse, gerando de imediato anticorpos. Cabe-nos a nós, enquanto agentes da mudança, doutrinar para os seus benefícios e tratar estas transformações como agentes, não patológicos, mas altamente benignos para a saúde das organizações.