Dois temas dominantes protagonizaram a maioria das discussões em Davos: a Inteligência Artificial (IA) e as suas evoluções (como a IA Generativa (GenAI) e a Inteligência Artificial Geral (AGI)), assim como os possíveis impactos e a influência do recém-eleito presidente dos Estados Unidos nas esferas política, económica e empresarial.
Em relação à Inteligência Artificial, ficou evidente que esta tecnologia transcende o debate sobre inovações tecnológicas e se transforma numa força de disrupção pronta para ter impactonas nossas vidas, como indivíduos e como sociedade, de forma tão significativa quanto, ou até mais, do que o aparecimento da Internet há duas décadas. O potencial impacto positivo da IA é enorme, com benefícios amplamente reconhecidos, incluindo, mas não se limitando ao:
- Alargamento exponencial do acesso à educação.
- Melhorias significativas nos serviços de saúde por via de soluções personalizadas e de baixo custo.
- Apoio para enfrentar os desafios demográficos, tanto no âmbito global quanto individual, através de assistentes pessoais e ferramentas que suportam os processos de tomada de decisão.
Ao longo da semana, tornou-se evidente que o discurso em torno da IA, GenAI e AGI não é unânime. O ritmo de implementação destas tecnologias gera um intenso debate. Enquanto alguns defendem a aceleração do desenvolvimento, outros alertam para os riscos, como a perda de controlo ou o aumento de preconceitos sociais. Uma rápida análise entre os participantes do World Economic Forum revelou opiniões igualmente divididas sobre o assunto.
Existe, no entanto, um importante ponto de consenso entre os especialistas: a crença na importância do poder de processamento computacional para explorar o potencial dos grandes modelos de linguagem (LLMs) e as suas futuras evoluções. É possível que em breve testemunhemos o aparecimento dos chamados modelos de linguagem quântica (QuantumLM), acompanhados de questões relacionadas com o aumento da procura de energia, especialmente num contexto em que o consumo de energia, as emissões de carbono e a sustentabilidade são tópicos centrais na agenda global. Paradoxalmente, os avanços nas tecnologias que consomem muita energia também apresentam algumas das melhores soluções para enfrentar estes desafios.
Ainda no domínio da IA, embora 2025 possa não marcar o advento da AGI, espera-se que seja um ano decisivo para a agentics AI - agentes autónomos projetados para nos apoiar em vários domínios, especialmente no complexo cenário da tomada de decisões (desde que mantenhamos a capacidade de tomar essas decisões).
Permanecendo em cenários complexos, é possível observar, apesar das novas políticas económicas dos EUA e das suas decisões potencialmente disruptivas, uma apreensão intensa e até mesmo um certo pessimismo entre os europeus em relação à capacidade da região para se adaptar ao atual cenário global volátil e de ter um impacto relevante no ecossistema de inovação.
Embora haja um amplo consenso sobre os desafios enfrentados pela Europa, a perceção predominante é a de estagnação. Questões como a fuga de talentos, a legislação desatualizada, o baixo estímulo ao risco, a falta de capital e a lentidão das ações conjuntas estão a enfraquecer a sua posição na economia global. Enquanto os EUA, a China e as economias emergentes da Ásia lideram as oportunidades, a Europa enfrenta uma crescente desvantagem competitiva.
Além disso, os fundamentos não negociáveis que definem a Europa - como os direitos humanos e os pilares sociais - tendem a enfraquecer sob pressão económica prolongada. Para sustentar os valores europeus, a região deve enfrentar os desafios e avançar para uma posição mais competitiva no cenário global. O sucesso económico, vale a pena lembrar, está diretamente ligado à inovação, que, em última análise, depende de talento.
Voltando à agenda de Davos, cujo tema principal foi "Colaboração para a Era Inteligente", não há como discordar: a inteligência nasce do talento e está, agora, a começar a ganhar força, passo a passo, com a IA. A colaboração inteligente entre indivíduos, talentos, empresas, regiões e países, apoiada pela tecnologia, é essencial para criar valor e sustentabilidade. Para que essa colaboração se concretize, é indispensável um propósito maior que ligue e alinhe decisões e acordos.
Mais do que nunca, as empresas, regiões e continentes que entendam essa realidade poderão escolher os seus líderes com sabedoria, reconhecendo o impacto da sua liderança na criação de ambientes propícios à colaboração. Estes líderes têm a responsabilidade de influenciar positivamente, criar contextos favoráveis e atrair os melhores talentos para contribuir para a sociedade.