Cibersegurança no setor público: um desafio estratégico para os governos | NTT DATA

ter, 07 outubro 2025

Cibersegurança no setor público: responsabilidade crítica dos governos

 

Num ambiente geopolítico cada vez mais hostil e dinâmico, a cooperação regional e a partilha de inteligência são fatores decisivos para garantir a prestação de serviços públicos e a confiança da sociedade nas instituições.

Um setor sob ataques

No primeiro semestre de 2025, o setor público consolidou-se como o principal alvo de ataques na região da Europa e América Latina, registando um crescimento próximo a 40% em relação ao semestre anterior, conforme dados do último relatório semestral de ameaças da NTT DATA.

Por de trás desses ataques, além das motivações económicas, há também objetivos de pressão política, obtenção de informações estratégicas e interrupção de serviços críticos. Em países como Espanha, Portugal e França, foram registadas campanhas contra sistemas de saúde e transporte, enquanto, em órgãos internacionais, cresce o interesse em comprometer sistemas de tomada de decisão.

Desafios de gestão pública

O aumento da frequência e sofisticação dos ataques impõe desafios que vão além do aspecto técnico. Para os gestores públicos, a cibersegurança tornou-se um tema central para a continuidade institucional e a confiança da sociedade, trazendo desafios que vão desde a garantia dos serviços essenciais até à padronização da forma como ministérios, agências e entidades públicas administram diferentes infraestruturas, cada uma em etapas diferentes de maturidade. Soma-se a isso a necessidade de responder à pressão regulatória, como a adoção de marcos europeus como NIS2, DORA e o Cyber Resilience Act, que exigem ajustes organizacionais, normativos e financeiros. Num cenário de recursos limitados, é fundamental equilibrar o investimento em defesa digital com outras prioridades de orçamento.

Uma abordagem integrada e personalizada para o setor

Além da tecnologia, a estratégia de cibersegurança no setor público deve estruturar-se em torno de três pilares:

1. Governança e liderança institucional

  • Definir modelos claros de responsabilidade e prestação de contas.
  • Promover políticas homogéneas em toda a administração pública, reduzindo disparidades territoriais e setoriais.

2. Capacitação e talentos

  • Investir continuamente na formação dos colaboradores públicos, que representam a primeira linha de defesa contra manipulação e fraudes.
  • Atrair e reter profissionais especializados, um desafio em mercados altamente competitivos.

3. Colaboração regional e internacional

  • Estabelecer mecanismos para a partilha de inteligência sobre ameaças entre países da região, órgãos multilaterais e parceiros estratégicos.
  • Participar ativamente em exercícios internacionais de ciberdefesa para fortalecer o nível de prontidão diante de crises transnacionais.

Desafios num contexto geopolítico em transformação

A polarização internacional e os conflitos regionais vão continuar a influenciar a dinâmica dos ciberataques, com foco especial em:

  • Órgãos governamentais e multilaterais vinculados à diplomacia e cooperação internacional.
  • Infraestruturas críticas de energia, transporte e saúde, onde um ataque pode paralisar operações de países inteiros.
  • Processos eleitorais e de tomada de decisão pública, nos quais a desinformação e a manipulação digital são utilizadas como armas de desestabilização.

Conclusão

O setor público da região está no epicentro dos conflitos cibernéticos modernos. A cibersegurança deixa de ser uma questão restrita aos departamentos de TI e passa a ser um assunto estratégico de Estado, no qual a continuidade dos serviços, a confiança da sociedade e a estabilidade institucional estão em jogo.

Investir em resiliência digital não é uma opção — é um compromisso fundamental para os governos da região.