A transformação digital no setor segurador deixou de ser um conceito aspiracional. Hoje, tecnologias como inteligência artificial, sensores ou plataformas modulares são realidade — ou pelo menos presença constante nos discursos estratégicos. Mas é precisamente por isso que se impõe uma pergunta desconfortável:
Que impacto real está a ter toda esta inovação?
A distância entre promessa e prática continua a ser grande.
1. Transformar não é digitalizar processos antigos
Muitos projetos tecnológicos limitam-se a automatizar o que já existe — mais rápido, mais limpo, mais “app-friendly”. Mas a transformação exige mais do que isso: implica questionar estruturas, canais, e até o papel da seguradora.
Será que a mediação funciona como devia? Porque é que continuamos a gerir risco reativamente? A inovação útil começa por fazer estas perguntas. Sem elas, digitalizamos a burocracia, mas não resolvemos o essencial.
2. Onde estão os resultados mensuráveis?
A maturidade da inovação mede-se em indicadores tangíveis:
- Redução de sinistros com base em alertas preventivos;
- Maior retenção de clientes com modelos preditivos;
- Diminuição de fraudes ou aceleração dos reembolsos com IA.
É perfeitamente possível medir tudo isto. A questão é: estamos a fazê-lo? Se não houver métricas claras, o risco é tratar a inovação como um fim em si mesma — quando devia ser um meio.
3. Ecossistemas: do produto ao contexto
O seguro está a deixar de ser um produto isolado e a tornar-se parte de ecossistemas mais amplos: mobilidade, habitação, saúde, bem-estar. Isso obriga as seguradoras a pensarem fora das suas fronteiras — integrando-se em jornadas de vida, não apenas em eventos de risco.
Este caminho é inevitável. E é, ao mesmo tempo, uma oportunidade e uma ameaça: quem não se adaptar, ficará para trás.
4. Tecnologia exige talento — e cultura
Comprar software não transforma empresas. O verdadeiro motor da mudança está nas pessoas.
É preciso formar equipas, mudar mentalidades, construir novas linguagens entre TI e negócio. Transformar é tão cultural quanto tecnológico. Sem isso, até a melhor plataforma falha.
5. Confiança: o novo ativo crítico
A personalização que a tecnologia permite só será aceite se houver confiança. O cliente quer mais prevenção e mais relevância — mas só cede os seus dados se sentir que há transparência, segurança e benefício mútuo.
O desafio dos próximos anos será este: como equilibrar inovação com ética, velocidade com responsabilidade?
Conclusão
O setor segurador tem feito progressos consistentes na adoção de novas tecnologias e modelos operacionais. Os fundamentos estão lançados. O próximo passo será consolidar essa inovação de forma estruturada, mensurável e próxima do cliente — garantindo que a transformação não se esgota na intenção, mas se traduz em valor real para todos os envolvidos.