O Barómetro de Inovação Clínica 2025, apresentado pela NTT DATA, consultora global de negócio e tecnologia, identifica dois desafios à construção de um ecossistema de saúde moderno, digital e centrado no conhecimento: a reduzida autonomia dos Centros de Investigação Clínica (CIC) na gestão de recursos humanos e incentivos, e a falta de tempo nos planos curriculares dos cursos de medicina para integrar competências digitais.
Os resultados mostram que esta dupla limitação se manifesta de forma clara no terreno e revela a distância entre intenções e capacidade real de execução. Nas faculdades de medicina, todas as Direções classificaram esta área como uma prioridade muito elevada, mas mais de metade das Associações de Estudantes considera que a preparação digital dos futuros médicos é insuficiente. Já nos hospitais, os CIC continuam limitados por modelos de gestão que não permitem contratar equipas ou definir incentivos de forma autónoma, uma fragilidade que compromete a agilidade necessária para competir internacionalmente.
A segunda edição do Barómetro amplia o horizonte de análise iniciado em 2024, ao integrar pela primeira vez as faculdades de medicina – com Direções e Associações de Estudantes – permitindo uma leitura mais abrangente da inovação clínica em Portugal. No total, o estudo envolveu 48 instituições clínicas e 10 faculdades de medicina, o que reforça a capacidade de diagnóstico do ecossistema.
Faculdades de Medicina: vontade de inovar travada por planos curriculares sobrecarregados
A auscultação às faculdades revela uma valorização institucional clara da inovação digital, com todas as direções a reconhecerem a preparação dos alunos para a era digital como uma prioridade muito elevada. No entanto, 56% das associações de estudantes consideram essa prioridade apenas baixa ou moderada, o que revela um desfasamento entre o discurso estratégico e a prática pedagógica.
Há convergência na inclusão de conteúdos como Inteligência Artificial, simuladores digitais e sistemas de apoio à decisão clínica, mas apenas metade das faculdades avançou para áreas mais complexas como Big Data e análise de dados clínicos.
A preparação dos alunos para a área digital é vista de forma mais positiva pelas Direções, com 87% a classificarem-na como moderada/boa; já 67% das Associações de Estudantes consideram que os alunos estão pouco ou apenas moderadamente preparados. A capacitação docente também é percebida como insuficiente por uma parte significativa dos estudantes (44%).
As infraestruturas tecnológicas são reconhecidas com centros de simulação clínica digital em todas as faculdades, mas persistem limitações em áreas emergentes como telemedicina, cibersegurança e ética digital. A perceção da qualidade dos recursos varia: 37% das direções consideram-nos adequados ou totalmente adequados, enquanto 56% das associações de estudantes os classificam como pouco ou apenas moderadamente adequados.
Apesar de todas as faculdades incentivarem projetos de investigação e inovação, nenhuma associação de estudantes reconhece que a formação atual contribui para o desenvolvimento de competências empreendedoras.
O principal obstáculo à integração de novas temáticas digitais é consensual: a falta de tempo nos planos curriculares, apontada por 75% das direções e 78% das associações de estudantes. Curiosamente, o financiamento para projetos de inovação pedagógica não é considerado um fator limitante, o que reforça a urgência de uma reorganização curricular.
“A inovação clínica não depende apenas de tecnologia, depende de pessoas capacitadas e estruturas ágeis. O Barómetro 2025 mostra que, sem autonomia nos Centros de Investigação Clínica e tempo nos planos curriculares dos cursos de medicina, Portugal arrisca perder o ritmo da transformação digital na saúde, o que será muito penalizador para a qualidade da prestação de cuidados, mas também para a capacidade que o país terá de captar grandes investimentos em investigação e inovação clínica”, afirma Patrícia Calado, Head of Clinical Innovation da NTT DATA Portugal.
Centros de Investigação Clínica: estruturas reconhecidas, mas ainda pouco autónomas
O Barómetro de Inovação Clínica 2025 reforça a necessidade de uma dupla transformação: CIC mais autónomos, digitalizados e eficientes, e profissionais de saúde preparados para trabalhar com tecnologias digitais, ciência de dados e novas abordagens clínicas.
A NTT DATA acredita que só com esta visão integrada será possível construir um ecossistema de inovação clínica sustentável, capaz de gerar valor para os doentes, para as instituições e para o país.
O Barómetro foi apresentado durante a atribuição dos Prémios Inovação em Saúde – Todos pela Sustentabilidade, uma iniciativa conjunta da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, da Sanofi e da NTT DATA, que teve lugar na aula magna da FMUL.
O relatório completo do Barómetro de Inovação Clínica 2025 pode ser consultado aqui.