Com a tecnologia convertida num motor de competitividade, o papel do Chief Technology Officer (CTO) ganha protagonismo na alta liderança, evoluindo do foco técnico para uma atuação estratégica. Em regiões como a Península Ibérica e América Latina, marcadas por realidades distintas e ecossistemas que avançam rapidamente na jornada de digitalização, o CTO é cada vez mais visto como o agente visionário capaz de transformar disrupções tecnológicas num crescimento sustentável e resiliência organizacional.
O cenário impõe desafios significativos: modernizar infraestruturas legadas sem comprometer operações críticas, enfrentar restrições de orçamento, adaptar-se a ambientes regulatórios em constante evolução e atender consumidores mais digitais e exigentes, que comparam experiências em escala global. Ao mesmo tempo, surgem oportunidades únicas: acelerar a adoção de cloud, IA e automação, sem o passivo de décadas de sistemas legados, explorar a expansão de setores como fintech, comércio eletrónico, energia renovável ou saúde digital, e atrair talentos emergentes com alto potencial de aprendizagem contínua e adaptabilidade em ambientes dinâmicos.
De “responsável pelas operações de TI no comité executivo”, o CTO passou a atuar como um verdadeiro arquiteto de negócios. Um catalisador da transformação cultural, com o papel de eliminar silos e fomentar a colaboração entre as áreas de negócio e tecnologia. Um intérprete de mundos distintos, que traduz tendências complexas em guiões claros e acionáveis. Um arquiteto da resiliência, que projeta sistemas preparados para resistir a crises económicas, disrupções nas cadeias de valor ou ataques cibernéticos. E um parceiro estratégico para inovação, ligando-se a startups, universidades e hubs tecnológicos para acelerar soluções disruptivas.
Assim como em 2015 o CTO evoluiu de um perfil operacional para uma liderança digital e transformadora, a partir de 2025 esse papel vai consolidar-se como orquestrador de ecossistemas: será responsável também por posicionar a organização em redes colaborativas, nas quais a inovação será cocriada com parceiros e clientes.
Casos de impacto reais
No curto prazo, a agenda do CTO é guiada por cinco frentes prioritárias:
- Modernização contínua: Capacidade de evoluir plataformas e processos sem comprometer as operações do dia a dia.
- Resiliência: Arquiteturas que garantem confiabilidade e disponibilidade num ambiente onde a disrupção é constante.
- Convergência de TI/TO: Essencial em setores industriais e de infraestrutura, onde a fronteira entre tecnologia da informação e operações físicas tende a desaparecer, possibilitando ganhos expressivos de eficiência.
- Infraestrutura de cloud do futuro: Arquiteturas flexíveis e escaláveis, capazes de otimizar custos, garantir soberania de dados e cumprir novos requisitos regulatórios e competitivos.
- Colaboradores sintéticos e empresas agênticas: A adoção da IA Generativa para a criação de agentes supera os limites dos modelos operacionais tradicionais e viabiliza comportamentos corporativos baseados em intenção.
Estas prioridades não substituem outras igualmente críticas (cibersegurança, IA, automação ou sustentabilidade): oferecem um marco integrador. Na prática, estas frentes traduzem-se em casos concretos de impacto.
- Setor do retalho: A adoção de arquiteturas unificadas de dados permite personalizar ofertas para milhões de clientes em tempo real, aumentando a retenção e o valor de vida do cliente.
- Setor bancário: A migração dos sistemas core para a cloud reduziu custos e acelerou o lançamento de produtos digitais em poucas semanas.
- Setor de energia: Plataformas IoT em tempo real otimizaram a distribuição elétrica, reduziram perdas e contribuíram para metas de sustentabilidade. No setor de manufatura, a integração entre IT e OT transformou a gestão das plantas de produção, aumentando a eficiência operacional e reduzindo o tempo de inatividade não planeada.
Semelhanças e diferenças
As regiões da Península Ibérica e América Latina partilham o mesmo idioma e valores culturais, mas diferem em maturidade tecnológica, acesso a capital e marcos regulatórios.
Em Espanha e Portugal, o CTO atua num ambiente mais avançado, com foco no cumprimento regulatório. Já na América Latina, embora a adoção tecnológica ocorra de forma acelerada, ainda há lacunas de ligação, volatilidade económica e diversidade de marcos regulatórios. Este cenário exige do CTO uma liderança adaptativa: o que funciona num país pode não funcionar noutro ou precisar de ser reavaliado. A flexibilidade torna-se, portanto, uma competência essencial.
Olhando para o futuro, tudo indica que o CTO nas regiões da Península Ibérica e América Latina vai ser o protagonista na criação de plataformas de negócios abertas, acelerar a adoção de IA Generativa e Agentic AI, implementar infraestruturas como código com escalabilidade instantânea e garantir operações sustentáveis desde a fase de projeto, em que a neutralidade de carbono será uma exigência competitiva. A sua capacidade de estruturar uma estratégia abrangente de ciberresiliência — da prevenção à recuperação automática — vai ser um diferencial competitivo num cenário em que interrupções operacionais não vão ser toleradas.
Trata-se de um perfil em plena evolução. Visionário e pragmático, o seu sucesso vai depender da capacidade de alinhar tecnologia, negócios e cultura organizacional. Muitas empresas já estão a redesenhar esse papel. O “T” de “tecnologia” funde-se com o de “transformação”. Por isso, o CTO tem vindo a a ocupar uma posição cada vez mais estratégica no conselho de administração, como protagonista da transformação tecnológica conduzida a partir do centro da organização.